segunda-feira, 26 de março de 2018

Obsoletus

Indignação absoluta sobre viver.

Simplesmente Ser deixa de ter sentido numa reta final,

O tempo parece mais imprescindível que o ser.

O que achamos sobre a vida deixa de ter o mesmo sentido,

Pensamos apenas no tempo que nos resta,

Nos seres que ainda permanecem com algum sentido de viver,

Nas histórias que continuam sem o nosso ser.

Não sei bem até, quais serão as questões que faremos nesse momento.

Serão milhares ou apenas uma?

O sentido de ser-se, no que foi e no que será.

Quando o corpo cede de ser, desliga partes funcionais, quase como curtos circuitos.

Fazendo com que a nossa motherboard tenha tempo limite de vitalidade.

Querendo acreditar no fazer parte da vida, esta sua última fase, faz questionar se será mesmo isso.

Não por questões religiosas, mas no verdadeiro sentido do que é a única questão que mantemos ao longo das gerações.

Sem plágio, corrupções, crenças ou até mesmo por naturalidade incerta.

Desligamos o vínculo, seja com o que for que tenhamos tido na vida e simplesmente aguardamos.

Esperamos. E em contagem decrescente assumimos a vida de outra forma.

A única que temos, numa espiral constante contra o próprio tempo.

Não há maneira certa de saber, as horas correm, deixam de ser longas.

E a indignação assume controle sobre si mesma.

Sorrindo gentilmente para o relógio, esperando que por milagre te dê nem que seja mais alguns segundos dessa mesma vida.

Ambicionando que se tornem em dias. Esperas.

Já não importa simplesmente Ser, a coligação dos circuitos internos, esses sim são indispensáveis.

Já tudo importou, os demónios com que lutaste, as conquistas que fizeste, o que construíste e o que ainda possuis.

O teu legado deixa de ter qualquer importância, o tempo sim, torna-se imperativo.

A vontade de ser torna-se alheia à vontade de querer permanecer.

O amor, a ligação física e emocional entre meros animais gera a rivalidade absoluta contra ao simplesmente ser.

Reinando no único pensamento possível, alegre, triste, solitário e caloroso.

Sabendo-se que a única esperança mantida por um fio, é a de que esse amor fique imortalizado.

O que é físico deixa de ter sentido.

E a vida assim, obsoleta. Esquecida ou lembrada pelo tempo que restou.




Acerca de mim

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Simples Poetisa, para quem me considera uma mulher que escreve poesia, e também Poeta, pois escrevo de forma a que a expressão literária seja o verso. Na verdade, gosto simplesmente e profundamente de poesia.