segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Insinuo


O teu olhar cheio de sedução,
Fitou-me no meio da tesão,
Criando tal sofreguidão.

Procuravas sedente um coração,
E cheio de ilusão,
Encheu-nos de emoção.

Sem medo, a destruição,
Gerou a sedutora locução,
Serpente em pele nova vão.

Que comeu a extinção,
De um amor em construção.




Desedium

A fusão dos nossos corpos,

Carne quente sedente,

De paixão, de sexo.


O sangue centraliza-se,

No epicentro carnal,

O suor das nossas peles,

Molha-nos completamente.


Água que corre, que nos lava a alma,

Do desejo, do pecado,

O gemido coroado num festim.


Toco-te sem qualquer pudor,

E sobrecarregas o calor em mim,

Os teus dedos, deslizam entre o meu cabelo,

As minhas mãos percorrem o teu corpo.


Sedento, volto-o de costas para mim,

Agarro-te o cabelo e o som ecoa.


E num mar de fluídos,

O acelerar do nosso alento,

Num contorcer corporal,

Ganham ânimo os gritos.


E num prazer total,

Alcançamos, nirvana absoluta.





domingo, 7 de outubro de 2018

Poesis



Palavras soltas dançam,
Viajando no meu sótão,
Umas cheias de pó,
Outras frescas na lógica.

Criando uma espécie de ritual,
Um sem origem definida.
Apenas atribuído ao pensar.

Mesmo sem silêncio,
Quebram qualquer raciocínio,
Sem aviso, ou memorando.

Simplesmente dançam,
Mesmo que sem melodia,
Bailando em composição,
Formando frases contemporâneas.

E em qualquer pedaço serve,
Físico ou mental,
Para apontar a sua coreografia.

E assim, o caos se torna poesia.



Dito por não dito





Pensei ter dito,
Apenas, sonhei.
Julguei pelo certo,
Fiquei pelo incerto.
Sonambulismo emocional,
Imaginei o som,
Fiquei pela tinta.
E assim, escrevi-te.





Tirocinĭu

Foste o amor da minha vida,

Aquele intenso, insano e quente.

Não te soube desfrutar da melhor forma,

Mas não era a altura certa para o vivenciar.


O tempo, esse não me ajudou a entender,

Coisas que estavam mesmo ali,

E cega, continuei.

Mas hoje, sei-te melhor do que ninguém.


Tornei-me no teu Eu,

E o meu, amadureceu e compreendeu,

Que há coisas que serão sempre mais fortes,

Do que o corpo ou sobre o controle que tentamos ter.


Há energias que não se explicam,

Apenas se recebem,

Intrínsecas se tornam.

E não existe fuga possível.


Apenas o controle de danos emocionais.

Amei-te, para me amar.

Porque a palavra ou sentimento,

Não teve tempo certo, só validade.







segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Finitus



E assim, a fantasia morreu.
Decomposição natural finita.
A magia, revela-se apenas truque de ilusão.
A cortina finalmente, desceu.
E só, restou no palco.
A peça entregue apenas à memória.
Na madeira, apenas o verniz.
Um conto, por narrar.
Livro cozido na pele.
Os aplausos pelo sonho, ecoaram.
O fogo de artifício queimou.
A chama apagou, rendida a si mesma.
Novo capítulo, por escrever.
Composição de letras.
Personagens velhas misturadas.
Novos passos, gestos, gritos.
Personificação geral.
Compreensão liberta.
Imaginação fértil.
E na redundância da criatividade,
Outro ciclo inicia, conto novo.
Vivendo a glória das palavras,
Nasce a obra.




Quimera


Aprendi a mentir-te,
A usar-te como escudo,
Como reflexo num vidro de rua,
O caos residiu em mim.

Ensinaste-me a usar o desconhecido,
Transformando a ignorância em clareza,
De cada movimento gesticulado,
De cada palavra ou som.

Hoje sei-te melhor do que ninguém,
Até de mim mesma, que tanto há por desvendar,
A tua essência tornou-se sinapse adquirida.

Substituindo o ADN natural,
Criando mutação catastrófica,
Sabendo mais do racional,
Do que o próprio animal.

E o ciclo em vez de se fechar,
Inicia dentro de mim,
Criando, transformando,
Lucidez transpirada, venerada.

A colisão de duas energias,
Nunca poderão ser absorvidas no que é nulo,
O resultado nunca é o esperado,
Regenera-se, mera atracção.

As tuas partículas fundiram-se,
Como praga, mataram mas também transformaram,
E tudo o que restou se alterou,
Nunca foi nulo, ou resultado negativo.

Aprendi a equacionar,
A análise tornou-se mais que pura matemática,
A antropologia fundiu-se em caracteres,
E numa nova programação, instalou-se no meu epicentro.

Preferia não te ter colidido,
Rasgou-me a energia,
Lembranças gastas, memória corroída,
Emoção desvairada, doente.




segunda-feira, 23 de julho de 2018

Delirium Singularis


A poeira assentou.

Na vida, tudo continuou.

O tempo não parou.

As pernas continuaram a andar.

E eu corri, até chegar a mim.

O Eu parou e analisou.

O que faltou, ficou.

Sem pressas, sarou.

O ar respirado abafou.

O suor secou.

Nos olhos, relembrou.

As memórias, descartou.

E no seguimento de segundos, vislumbrou.

Tudo o que se tornou.

E a voz descartável, informou.

De que tudo simplesmente mudou.





Virginitas


Ser fonte de inspiração,
Juventude rosa,
Sensibilidade fugaz,
Estrutura sem pilares,
Ser tudo e nada.
Simplesmente sem regras.



E a quem nos dera voltar àquela inocência.
Onde tudo floresce, mas ao mesmo tempo,
Desejar nunca a termos conhecido outrora,
Pois tem estadia curta, em nós.



segunda-feira, 26 de março de 2018

Obsoletus

Indignação absoluta sobre viver.

Simplesmente Ser deixa de ter sentido numa reta final,

O tempo parece mais imprescindível que o ser.

O que achamos sobre a vida deixa de ter o mesmo sentido,

Pensamos apenas no tempo que nos resta,

Nos seres que ainda permanecem com algum sentido de viver,

Nas histórias que continuam sem o nosso ser.

Não sei bem até, quais serão as questões que faremos nesse momento.

Serão milhares ou apenas uma?

O sentido de ser-se, no que foi e no que será.

Quando o corpo cede de ser, desliga partes funcionais, quase como curtos circuitos.

Fazendo com que a nossa motherboard tenha tempo limite de vitalidade.

Querendo acreditar no fazer parte da vida, esta sua última fase, faz questionar se será mesmo isso.

Não por questões religiosas, mas no verdadeiro sentido do que é a única questão que mantemos ao longo das gerações.

Sem plágio, corrupções, crenças ou até mesmo por naturalidade incerta.

Desligamos o vínculo, seja com o que for que tenhamos tido na vida e simplesmente aguardamos.

Esperamos. E em contagem decrescente assumimos a vida de outra forma.

A única que temos, numa espiral constante contra o próprio tempo.

Não há maneira certa de saber, as horas correm, deixam de ser longas.

E a indignação assume controle sobre si mesma.

Sorrindo gentilmente para o relógio, esperando que por milagre te dê nem que seja mais alguns segundos dessa mesma vida.

Ambicionando que se tornem em dias. Esperas.

Já não importa simplesmente Ser, a coligação dos circuitos internos, esses sim são indispensáveis.

Já tudo importou, os demónios com que lutaste, as conquistas que fizeste, o que construíste e o que ainda possuis.

O teu legado deixa de ter qualquer importância, o tempo sim, torna-se imperativo.

A vontade de ser torna-se alheia à vontade de querer permanecer.

O amor, a ligação física e emocional entre meros animais gera a rivalidade absoluta contra ao simplesmente ser.

Reinando no único pensamento possível, alegre, triste, solitário e caloroso.

Sabendo-se que a única esperança mantida por um fio, é a de que esse amor fique imortalizado.

O que é físico deixa de ter sentido.

E a vida assim, obsoleta. Esquecida ou lembrada pelo tempo que restou.




Acerca de mim

A minha foto
Simples Poetisa, para quem me considera uma mulher que escreve poesia, e também Poeta, pois escrevo de forma a que a expressão literária seja o verso. Na verdade, gosto simplesmente e profundamente de poesia.