terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Fumus


Foste curiosidade juvenil,

Mal sabia eu das tuas amarras, 

Foste companheiro de tanto,

Em salas cheias de música,

De chuto, fumo e cinzas.


Foste nevoeiro em livros mal escritos,

E chama para me queimar,

Em casas cheias de alegria e dor,

Foste bengala da falta do cuidado,

Droga do prazer interno.


Foste fumo entre horas de pintura,

Harmonia entre uísque e música,

Uma combinação quase poética,

E quando mais precisava de gritar, fumava-te.

E foste tantos gritos fumados. 


Foste prisão, ritual viciado agregado,

Foste peso no meu respirar,

De tanta falta de ar provocada,

Está na altura de te enterrar, arma. 

Recriar um ritual ancião.


Seguir para o outro lado da vida,

Em liberdade, em paz.

Adeus companheiro mortal,

Deixa-me sacudir a tua cinza,

E regenerar. 



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Theatrum

Palavras ocas.

Sentimentos manipulados. 

Mentiras, não foram poucas.

Egoísmo insípido, vindo de tantos lados.


Intimidade presenteada ao vazio.

Num teatro de terror aclamado de amor. 

A consideração, por um fio.

No zero, ficaste sem qualquer teor.


Colagens sob colagens.

Cacos sob cacos.

E tudo por meras miragens.

Só resta matar o que sobrou e enterrar nos buracos.


Descanso-me em paz.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Vociferamini


 Escrevo o poema,

Como um grito cigano,

Da falta que me fazes,

Num gemido solene,

Em busca do tempo perdido,

Do que ainda não vivemos,

O escárnio do amor,

Que nunca foi teu.


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Ustilas

 

Foste sem querer a gasolina,

Que ateou de novo a chama,

A lenha para me queimar,

Arder só porque sim.


E o fumo que isto causou,

Sufocou o meu oxigénio,

Sem conseguir verbalizar,

Cegou o meu olhar.


E queimando tudo o que não quero,

Sem nada para apaziguar,

Apaga-me, suplico-te.


Apaga o fogo que arde em mim,

Preciso remover as cinzas,

E deixar o restolho de parte,

Purificar de novo o coração.


A reconstrução é imperativa,

Neste sentimento ímpio,

Porque o sentir demais destrói,

Quero-me de volta. 


Somnis

 

Dei por mim a viajar,

Contigo dentro e fora,

Da cabeça, onde tudo se criou.


Eram os teus cabelos entrelaçados,

No vento do meu suspiro,

Na tua nuca, sussurrando-as,


As palavras escondidas, as que sentia.

Soltas na nossa pele suada,

No vagar de um olhar,


Nas entrelinhas do silêncio,

O cinema assim se fez,

Aquecendo a película romantizada,


Nas madrugadas molhadas,

O sentir a calma do recomeçar,

E sem previsão de sentimento,


Acordei, foi apenas o sonhar. 


Aer et Ignis


Encontrei a chama esquecida,

Em ti senti o frio na barriga,

O calor da negação de sentir,

De correres pela minha cabeça ao nascer do dia,

Sem qualquer pedido de autorização.


Estar contigo, alma familiar,

Ser parceiro sem o ser,

A estranha união perfeita dos seres,

Que confusão de sentidos.

Querer sem porquê ou hesitação.


Deitar-me contigo na mente,

A insegurança a expelir-se,

Com o passar dos minutos parece dissipar-se,

E como entrou, sai a correr.

Esta sensação do pertencer sem o ser.


Saber que o gostar de ti é meramente isso.

Sem maldade absoluta, é só mais uma história,

Daquelas bonitas que perdidas ficam.

Na turbulência do gostar da tua pessoa,

Foi-me fácil.


Foi o início de algo que estremeceu,

A sensação obsoleta do romantismo.


domingo, 15 de agosto de 2021

Orgasmus


Beber-te e saciar-me,

Arder à flor da pele,

Sacudir a fome de espírito. 


Calar o grito interno e gemer o prazer,

Ser dentro de ti,

Purgar os nossos pecados. 


Santificar o clímax,

E sacrificar o corpo.

Entre rasgos de roupa,

Semelhantes à pele.


A dor da tesão presa aos movimentos carnais.

Queimando a água do teu corpo,

Suando os nossos demónios,

Sucumbindo às maleitas do nosso querer. 


Comer-te a pele,

Devorando-a em cada beijo.

Dizer-te que és bela, 

Vendo o que de mais feio há em ti.


Cativar-me sem qualquer receio,

E no fim, sem fugir à bagagem,

Dar-te-ei colo, amor. 


Ver-te como um só.

Comer as tuas palavras,

Devorando a tua intelectualidade.

E até mesmo as tuas dores mais cruas.


Amar-te na plenitude. 


03/2021

Acerca de mim

A minha foto
Simples Poetisa, para quem me considera uma mulher que escreve poesia, e também Poeta, pois escrevo de forma a que a expressão literária seja o verso. Na verdade, gosto simplesmente e profundamente de poesia.